Primeiras Pedaladas
- Heino Felder
- 27 de out. de 2020
- 4 min de leitura
Sempre tive um gosto pela bicicleta. Ela surgiu na minha vida ainda na infância e deixou rastros de felicidade que guardo até hoje na memória.
O primeiro cenário de brincadeiras com uma bicicleta que me lembro foi a rua da minha casa, em Treze Tílias, SC. Nela, havia uma ladeira e com uma pequena Caloi amarela, equipada com as famosas rodinhas, dei minhas primeiras pedaladas, mas nesta época, usei pouco a bicicleta. Usava mais para pedalar em volta de casa, como passatempo e diversão, do que para me deslocar pela cidade.

Lembro que uma vez, já adolescente e com uma bicicleta maior, fui com os amigos visitar um colega de escola que havia se mudado para a cidade vizinha, Ibicaré. Eram pouco menos de 10km, mas foi uma aventura e tanto. Nosso amigo logo se mudou para mais longe e essa aventura acabou por não se repetir.
Mais tarde, já com meus vinte e poucos anos, me mudei para a Áustria e lá conheci dois amigos que fizeram o caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, de bicicleta. Naqueles anos, a paixão por viajar floresceu intensamente em mim e se juntou com o desejo de viajar de bicicleta, principalmente depois de ver fotos e ouvir as histórias desses dois amigos.
Comecei a procurar sobre o assunto na internet e em livros e, desde então, acompanho viajantes, brasileiros e estrangeiros, que fazem grandes viagens e até a volta ao mundo sobre duas rodas.
O que despertou meu interesse foi a possibilidade de viajar com calma, conhecer melhor cada região onde passam esses aventureiros. Ter um contato profundo com a cultura local, as pessoas e até mesmo a natureza. Alguns anos depois comprei uma bicicleta e me pus a pedalar ao redor de onde morava na Áustria.

Rumo ao lago: a primeira aventura
Em 2007, fiz a minha primeira aventura um pouco mais longe de casa. Peguei a bicicleta, uma MTB da marca Merida e uma mochila com algumas roupas e parti para uma volta ao redor do Lago Bodensee que se localiza na tríplice fronteira da Alemanha, Áustria e Suíça e que devido sua beleza é um importante destino para turistas e moradores locais. Para chegar ao lago e circundá-lo foi necessário pedalar pouco mais de 200km. Foram 3 dias de pedal.
Era um sábado, dia 28 de abril quando saí da cidade de Feldkirch, onde morava, em direção a Bregenz, cidade que margeia o lago e também é capital do estado austríaco de Vorarlberg. Pedalei pela excelente ciclovia que acompanha o Rio Reno, mesmo rio que serve o lago, depois comecei a pedalar por uma ciclovia costeira ao lago até a cidade de Lindau, na Alemanha. Essas duas eram as únicas cidades que eu conhecia até então. O restante do caminho foi novidade.


Pedalei por mais uns 20km até a cidade de Friedrichshafen passando por lindas cidades na beira do lago. Era primavera, o clima estava quente e as pessoas aproveitavam o ar livre, felizes e ansiosas pela chegada da estação mais desejada do ano: o verão europeu. Eu me sentia da mesma forma, e mais feliz ainda por estar realizando a minha primeira aventura.
Procurei uma acomodação barata na cidade e com certa dificuldade consegui vaga em um hostel. Naquele final de semana, além de feriado prolongado do dia 1 de maio, a cidade recebia uma famosa exposição de carros “tunning”, atraindo ainda mais visitantes de toda a Europa.
No dia seguinte parti margeando o lago, passando por cidades como Meersburg e contornando a parte norte do lago, terminando o dia em Konstanz, ainda na Alemanha. Em Konstanz segui a indicação de uma acomodação e para minha surpresa dormi dentro de um antigo farol desativado que foi transformado em hostel. Pela janela do quarto eu tive uma vista privilegiada do lago.



Ao fim da tarde ainda foi possível visitar Mainau – a Ilha das Flores, que pertenceu a uma família aristocrata sueca e é famosa por abrigar diversas plantas que foram colecionadas por uma princesa que amava a botânica. Muito conservada e com espécies de flores e árvores do mundo todo, hoje é um importante destino de turistas e cientistas.


No retorno ao hostel, tenho a viva lembrança de pedalar com os braços abertos, sentindo a liberdade soprar em meu rosto e agradecendo a oportunidade por poder realizar a aventura. No último dia da viagem, já sentia a tristeza de voltar para casa, mas ao mesmo tempo a alegria em ter aproveitado bem o fim de semana. As pernas já sentiam um pouco do cansaço, pois eu nunca havia pedalado essa distância, muito menos em dias seguidos.
Passei pela parte sul do lago, pertencente a Suíça, cruzando cidades como Romanshorn e Rorschach, até chegar novamente ao Rio Reno e segui-lo até Feldkirch. Ainda na ciclovia do Reno, parei para me refrescar em um afluente do rio, deitando dentro da água gelada, proveniente do derretimento da neve dos Alpes.



Voltei para casa com muita vontade de pedalar mais e mais longe e passei a acompanhar muitos ciclistas pela internet, na época do Orkut, depois Youtube, Facebook e Instagram.
Naquele momento, a paixão por pedalar ficava ainda mais forte, mas mal sabia que só voltaria a viajar com a bicicleta depois de 13 anos.
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